Bruta.
É estranho, né?
Essa palavra sempre pareceu um pouco pesada. Meio inadequada para uma mulher. Não tem o mesmo charme de “forte”, nem a aura mística de “intensa”. Mas é isso mesmo que eu sou — bruta. E antes que você torça o nariz, já aviso: não tem nada mais bonito que isso.

Ser bruta é não fazer firula pra existir.
É falar o que precisa ser dito sem ficar contornando a frase como quem enrola o cabo do carregador.
É saber o que quer. E dizer.

Eu aprendi cedo que não ia ser princesa. Não sei fazer voz doce. Não dou três voltinhas antes de pedir o que quero. E, sinceramente? Nem quero. Porque na história da princesa… eu sou o dragão. A criatura cheia de fogo e propósito que assusta quem ainda não entendeu que a força de uma mulher não está no sorriso que consente, mas na falta de constrangimento em desobedecer. Ser bruta causa estranheza.
Incomoda. Desestabiliza. Assusta.
Principalmente quando você entra na sala e não está pedindo permissão para ser quem é.

Bruta não é ser grossa.
Não é atropelar os outros, ignorar a escuta, viver armada.
Ser bruta é ser direta. É ser resolutiva. É saber a hora de cortar o laço que já virou nó.
É cuidar de si como quem defende um território sagrado. Porque é.
É amar sem drama. Trabalhar com garra. E lembrar de pedir ajuda, sempre que precisar. Porque se tem uma coisa que sendo bruta eu aprendi é que pedir ajuda é um superpoder. Não diminui, não enfraquece. Humaniza.

Tem dia que eu acordo que nem um t rex, estressada, com braços curtos, rosnados,  vontade de arrancar cabeças (figurativamente). Ainda assim, escolho seguir. Bruta.
Com o cabelo bagunçado e o queixo pra cima.
Com incertezas, mas com pressa de viver.

Bruta, no meu dicionário, é o avesso da omissão.
É a mulher que não espera aprovação pra seguir. Que não sorri pra amenizar a própria opinião.
Que não se curva diante de quem tenta suavizar seu brilho dizendo que ela é “demais”.
(Obrigada. Sou mesmo.)

Essa mulher bruta aqui, que vos escreve, não é feita de pedra.
Chora, fica triste, derrete
E volta. Sempre volta.
Porque tem um compromisso com ela mesma: Ser inteira.
E entregar, em tudo o que faz, o melhor que tem — mesmo quando o mundo parece girar mais rápido que o próprio fôlego.

Então se você me chamar de bruta, já vou responder: obrigada, meu bem.
Porque no fim das contas, não existe elogio maior do que reconhecer a potência de quem escolheu ser inteira, mesmo quando esperavam que fosse só metade.